Ontem o Globo Repórter, da TV Globo, mais uma vez abordou um tema que sempre me interessa. A adoção.
Surpreende o fato do quanto se fala que adotar é um gesto de amor, uma iniciativa belíssima, mas como pouco se faz. Por que ainda é tão difícil pensar em adotar uma criança e tão fácil comprar um cachorro?
Acho um absurdo comparar uma criança a um cachorro, mas uso esse artifício para que se reflita que o princípio é o mesmo, porém sempre são colocados obstáculos para justificar um ato em detrimento de outro.
Para se adotar, ou mesmo comprar um cão, é preciso, acima de tudo, amor para dar. Não se pode querer um bicho simplesmente porque ele é bonitinho. Ele vai precisar de carinho, de atenção, e se não receber, vai transformar sua vida em um inferno! Pois é isso que acontece com as crianças. Qualquer criança, adotada ou não.
Um animal precisa de um lar, de alimentação. Uma criança também.
O cachorro precisa ir ao veterinário, o que demanda certo investimento (muitas vezes até exagerado). Uma criança eventualmente vai precisar ir ao médico, tomar vacinas. Um adulto, depois de certa idade, precisa muito mais!
Um bichinho de estimação também gosta de passear, brincar, gastar energia! Tal qual crianças, que quanto mais estimuladas, mais alegrias nos dão de retorno.
Assim como os cachorros, elas também nos servem de companhia, também têm muito a nos ensinar e aprender.
É lógico que os gastos são elevados (eu prefiro pensar que são investimentos!), mas a recompensa é infinitamente maior.
Não há nada que supere um sorriso ou um Eu Te Amo, Mamãe! E isso, só as crianças podem nos dar. E de sobra, sem cobrar nada!
Mas também não são apenas as crianças. Os adolescentes também têm muito a nos ensinar. Principalmente a ter paciência e aceitar as diferenças. Fazer com que nos coloquemos em seus lugares para compreender aquilo que um dia passamos e sabemos bem como é difícil superar.
No Brasil, existem mais pessoas na fila de espera por adoção do que crianças para serem adotadas. O problema é que a maioria quer bebês brancos, com no máximo 1 ano de idade. E nos abrigos e orfanatos, a espera é justamente daqueles que já passaram dessa idade. Muitos estão quase completando 18 anos (idade limite para ficar em abrigos) e não têm nenhuma expectativa de vida.
Essas crianças e jovens, quando recebem a oportunidade de ter um lar, uma família, são tão gratos que fazem de tudo para deixar pais e mães muito felizes.
É claro que existem exceções, mas como diz a palavra, é minoria. E vamos ser honestos. Desde quando filho biológico é sinônimo de pura felicidade? Sempre vai haver crise de idade, desentendimentos e até mesmo rompimentos com a família. Isso é comum do ser humano! Não é a herança genética ou a falta dela que faz a diferença.
No programa de ontem ouvi um depoimento emocionado que me deixou emocionada também. Uma senhora chamada Hália de Souza, que adotou duas meninas, hoje adultas, traduziu o que é uma adoção: “A criança tem que nascer dentro do coração das pessoas, do peito, da alma. Então, a criança que chega não tem nosso código genético, nosso DNA físico, mas vai ter o DNA da nossa alma”.
E a alma é o que importa! É o que de fato faz a diferença na vida de uma pessoa. É o amor recebido, os ensinamentos prestados e, principalmente, os exemplos que farão da relação pai e filho uma experiência enriquecedora e feliz. Se podemos amar amigos e animais, por que não podemos amar de forma incondicional um filho que não nasceu de nossa herança genética, como disse dona Hálvia, mas da nossa alma, do amor que temos de sobra para dar e muitas vezes nem sabemos?
É lógico que adotar requer responsabilidades, dedicação, investimento. Porém não é nada diferente de ter um filho biológico, ou mesmo um cachorro. A base é sempre a mesma: o AMOR!